sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Acordada

Tenho a certeza que dormes.
Como sempre dormes, mesmo que
o mundo em redor se desmanche.
E eu, acordada e morta,
o relógio compasso de respiração,
penso no teu sono tranquilo.
Nas tuas pálpebras, grutas
escuras de solidão.
Pergunto-me se falas comigo
nos teus sonhos e o que
te respondo. Que palavras
te digo, como soa a minha voz
dizendo o teu nome. O teu
nome, gosto tanto do teu nome.
(Ouvia o vento no teu nome.)
Se estou bonita. Quão bonita.
Queria que me visses bonita.
Pergunto-me se me vês sorrir,
o sorriso, os olhos, os olhos
que querias só para ti e que
eram só teus, só queriam ser.
Se te toco o rosto, o peito, e
se também me tocas, se me sentes,
viva, o sangue a ferver nas veias,
o corpo a tremer nas tuas mãos.
Se ainda te digo amo-te ao ouvido.
Se me abraças no fim,
ou me deixas cair nua no chão.
(Sonharás sequer comigo?...)
Pergunto-me, acordada e morta,
acordada e morta,
o que restará de mim
no lugar onde bate o meu coração.

5 Comments:

Blogger Carina Rocha said...

Ler cada palavra, cada linha sua... é fantástico, eu identifico-me com todas as suas palavras! Belo poema, parabéns!

10/28/2011  
Blogger Maria said...

Tão triste e tão belo.
Saio daqui a 'chover'...

Beijinho.

10/28/2011  
Blogger ruth ministro said...

Carina, muito obrigada... Não há maior felicidade para quem escreve do que essa, saber que as suas palavras tocam quem as lê. Um beijinho, e volte.

Maria... como eu disse uma vez num poema, uma nuvem chove quando quer dizer amor... Beijinhos

10/28/2011  
Blogger OUTONO said...

Um falar dentro, que cala a respiração.
Poema força, onde a pergunta é contágio de apelo...e o silêncio, dor de sentir, como nuvem apelo.
Fica-se...com vontade de ficar!

Beijo.

10/29/2011  
Blogger ruth ministro said...

José Luís, sempre com as palavras nas pontas dos dedos...

Beijos

11/01/2011  

Enviar um comentário

<< Home