quarta-feira, 12 de junho de 2013

Crónica do pensamento absurdo

Ainda que isto possa parecer um tanto ou quanto contraditório, dei comigo, ainda há pouco, a pensar que, no fundo, pensar nos faz pensar em demasia. Afinal para que é que precisamos de pensar tanto? Uma pessoa pensa, repensa, "tripensa", num exercício quase circense de malabarismos idiotas que, muitas vezes, culminam numa aparatosa queda. E sem rede. Sim, que pensar é uma actividade de alto risco, sujeita a consequências gravíssimas, quer a nível físico, quer a nível psicológico, e a danos absolutamente irreparáveis para os neurónios em geral (os chamados efeitos colaterais do pensamento), mas especialmente para os do sujeito pensante. É verdade que o pensamento (no qual se incluem de forma indissociável - para mal dos nossos pecados - as emoções), assim como a acção, tem uma função adaptativa, contribuindo para a evolução da espécie, mas eu cá acho (secretamente, senão ainda dizem que eu estou a ficar maluquinha) que na maior parte das vezes, ao pensar demais, estamos a entrar no processo inverso, o do retrocesso, o da involução, uma vez que o pensamento se torna contraproducente chegando mesmo a inibir a acção. Diga-se, a bem da verdade, que pior do que inibir a acção é quando o pensamento passa uma rasteira à própria acção, ou seja, a pessoa bem age, mas tropeça no pensamento e espalha-se ao comprido. E atenção, isto depois de uma lista repetida de exercícios circenses. É o efeito bola-de-neve. Pensamento gera pensamento que gera pensamento que culmina na queda, esta, por sua vez, origina um curto-circuito na corrente eléctrica do pensamento, que faz com que o pensamento que vai a pensar muito descansadinho, seja apanhado desprevenido no caminho e volte a cair. Lá tem que se levantar e recomeçar a pensar para gerar novos pensamentos e assim sucessivamente até à próxima queda. Isto é ou não é um problema? A célebre máxima de Descartes "penso, logo existo" tem muito que se lhe diga, especialmente depois de se pensar nela de uma forma aprofundada. Lá existir, existe-se, mas penosamente, o que, aos poucos, vai inviabilizando o sentido da própria existência. E não me venham com aquele argumento das quedas nos tornarem mais fortes, que eu cá nunca vi um pensamento mais forte depois das ideias esfoladas.