sexta-feira, 11 de outubro de 2013

O poema sério

Este é um poema sério.
Um poema tão sério que
não há história de alguma
vez ter sido visto a rir.
E se, por mero acaso,
num momento raro de loucura
tiver deixado escapar uma
gargalhada entrelinhas, certamente
se redimiu com duas Ave-Marias
imediatamente a seguir, ou talvez
dois Pais-Nossos, que esses não
correm riscos de ser cheios de graça.
Este poema usa fato e gravata
como convém a um poema digno
de ser chamado sério,
nunca passou um verso careca
e pára sempre nas passadeiras
para deixar passar as velhinhas.
Não ultrapassa limites de velocidade,
nem sequer quando faz viagens
longas de auto-estrada até
lugar nenhum.
Nunca se esquece de dizer obrigado
quando alguém lhe abre uma porta
e antes de entrar, limpa sempre
as solas dos sapatos, não vá
alguma palavra sujar o chão...

Este poema é na verdade
um caso muito sério:
o sentido de humor do poeta
está em vias de extinção.