quinta-feira, 12 de junho de 2014

Apenas saudade

Um dia, quando eu for uma grande poeta,
escreverei um poema à minha cidade.

Cada palavra será pura, uma rosa branca
a florir, ou uma pomba a voar, e os
seus versos contarão as histórias de amor
cravadas nas pedras no seu chão.

Será um poema feito de sol,
de olhar terno e sereno,
um poema-entardecer lento, visto
de uma velha janela de Alfama.

Sim, um dia saberei escrever um poema
digno da minha cidade, um poema que
diga o fado murmurado nas esquinas,
que se perca pelas ruas até chegar ao rio,
que saiba tocar, ao de leve, a asa de uma gaivota
e guardar uma nuvem, e contar um segredo.

Como quem abre um coração.

Hoje escrevo apenas saudade e
ao fundo de mim, o riso de uma menina
lembra-me a voz da minha Lisboa.