terça-feira, 3 de março de 2015

Falávamos de amor como se o amor fosse dizível

Falávamos de amor como se o
amor fosse dizível,
como se o amor fosse aquilo
que se faz com as palavras
quando o silêncio nos queima
os lábios por dentro.

Tratámos o amor por tu
e levámo-lo connosco
à chuva,
enquanto decorávamos
placas com os nomes
das ruas e líamos
em voz alta os
letreiros dos cafés.

Tu com o teu casaco velho
de algibeiras rotas
por onde moedas e sonhos
se haviam perdido,
eu com livros de poemas
inúteis nas mãos.   

Não sei se a dada altura nos
abrigámos, talvez
ainda chovesse,
talvez fizesse frio,
correntes de ar entre palavras
e o meu lenço
(ou terá sido um verso)
voou.

As poças de água no chão
reflectiam a noite e
encharcavam-nos os sapatos,
e nós falávamos de amor 
como se o amor fosse
um peixe a nadar
aos nossos pés.