terça-feira, 25 de agosto de 2015

Numa dessas horas que a madrugada tem

Foi numa dessas horas que a madrugada tem,
nós sentados naquele banco de jardim
onde tu virias a gravar os nossos nomes
com a tua letra ridiculamente torta, ridiculamente
tua, já depois de tudo o resto ter desaparecido,
as folhas douradas do Outono, as cascas de
castanhas, até aquele pequeno quiosque dos
jornais onde outros nomes escritos com letras
ridiculamente perfeitas poderiam ter competido
com os nossos pela fama,
um frio de gelar qualquer silêncio e mesmo
assim dispensámos as palavras, entrelaçámos
dedos e sonhos, escrevemos desejos num avião de
papel feito por ti e fizemos pontaria às estrelas,
vimo-lo voar e desaparecer para sempre entre as
folhagens das árvores mais altas, talvez um dia
chegue ao seu destino, as nossas letras ridiculamente
gastas, ridiculamente nossas, já depois de tudo o
resto ter desaparecido, já depois, muito depois
dos nossos nomes.