quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Esta rua sem igual

A claridade fere os olhos
reflectida nos vidros das janelas,
a luz de Lisboa não tem igual,
e esta rua cheia de flores cheia de
risos, onde pela primeira vez nos
cruzámos, permanece inalterável,
cada pedra adormecida no seu
lugar da calçada, cada muro a
sussurrar as mesmas palavras de
Pessoa, que não ouvimos porque o
vento nesta rua é uma canção sem
letra, é um fado sem voz, uma
guitarra portuguesa a arrepiar-nos os
braços que ao de leve se tocam pela
primeira vez, tu subindo em direcção
às nuvens, eu descendo a caminho
do rio, ambos tentando alcançar
um céu que ainda não conhecíamos,
o azul de Lisboa não tem igual,
recortado à medida desta rua
só nossa e de toda a gente, onde,
numa fracção de segundo, os nossos
olhos se encontraram (seria a primeira
vez?) antecipando o repentino voo
de uma gaivota ou talvez
de um poema, onde cada passo
me leva ao teu encontro, onde
em cada janela há uma memória
estendida ao sol com os lençóis.