sexta-feira, 1 de março de 2024
É possível que a poesia me tenha morrido
nas veias, afogada no veneno dos dias,
das horas ácidas, do desencanto.
Procuro-a nos recantos da casa, nos
sonhos amarrotados sobre a cama desfeita,
nos casacos deixados à porta como se o
frio do Inverno não pudesse entrar.
Não a encontro e pergunto-me se ela
alguma vez me procura, se como eu sente
a falta dos versos, da beleza que faz doer,
das palavras a pulsar de vida
e de renascer outra e sempre a mesma a cada poema.
terça-feira, 6 de junho de 2023
Estilhaços
Entrasse um pássaro por este
dia dentro e com as asas quebrasse
as palavras de vidro que já não dizemos
e do silêncio em estilhaços talvez
pudéssemos - voltássemos a querer -
tecer um mesmo sonho.
domingo, 3 de julho de 2022
D.
Entre a maravilha e o horror do mundo
existes tu a tua voz os teus passos
a encher a casa os dias o coração
Não sei a vida sem o azul dos teus
olhos lagos fundos de verdade e de luz
Posso até já ter morrido muitas vezes
antes de ti, posso ter perdido a fé
nos Homens nas palavras nos poemas
Tu trouxeste um arco-íris nas mãos e
eu prometi-te guardá-lo no peito
no lugar exacto onde nasceste
Há no mundo a maravilha e o horror e
depois existes tu existo eu existe o amor
sábado, 7 de novembro de 2020
Não escrevo
Não escrevo para que leiam
as minhas palavras
os vossos olhos estão fechados.
Isto não é um poema.
as minhas palavras
os vossos olhos estão fechados.
Isto não é um poema.
Isto é o meu grito.
terça-feira, 27 de março de 2018
A hora exacta
Esta é a hora exacta o dia perfeito a noite sem par
estamos a meio caminho entre algures e nenhures
um qualquer lugar onde as palavras não têm som
nada as separa do mundo as separa umas das outras
as distingue de ti ou de mim ou de um pássaro
tudo parece mover-se à velocidade imperceptível
do silêncio quando nos percorre por dentro
montanhas imóveis de sonhos cobertos de neve
cobertos de flores amanhã tudo poderá ser nada
ou menos que nada até, este é o momento em
que tudo muda tudo ganha sentido tudo se torna
transparente e líquido um poema suspenso no
infinito uma flor nascida não da terra mas do
vento um indecifrável labirinto que finalmente
se desmancha mais de mil espelhos reflectindo
o sol da manhã.
estamos a meio caminho entre algures e nenhures
um qualquer lugar onde as palavras não têm som
nada as separa do mundo as separa umas das outras
as distingue de ti ou de mim ou de um pássaro
tudo parece mover-se à velocidade imperceptível
do silêncio quando nos percorre por dentro
montanhas imóveis de sonhos cobertos de neve
cobertos de flores amanhã tudo poderá ser nada
ou menos que nada até, este é o momento em
que tudo muda tudo ganha sentido tudo se torna
transparente e líquido um poema suspenso no
infinito uma flor nascida não da terra mas do
vento um indecifrável labirinto que finalmente
se desmancha mais de mil espelhos reflectindo
o sol da manhã.
quinta-feira, 9 de novembro de 2017
A última palavra do mundo
E se amor fosse a última
palavra do mundo
a única sobrevivente do
Apocalipse
a besta que venceu todas as
batalhas
o coração que ainda pulsa
fortemente
se o teu corpo fosse
palavra do mundo
a única sobrevivente do
Apocalipse
a besta que venceu todas as
batalhas
o coração que ainda pulsa
fortemente
se o teu corpo fosse
o meu
o meu corpo fosse
o teu
e a última palavra do mundo
amor
a última palavra do mundo fosse
nossa
o meu corpo fosse
o teu
e a última palavra do mundo
amor
a última palavra do mundo fosse
nossa
terça-feira, 26 de setembro de 2017
Acordar
Por vezes, no meu sonho, sou mar ou
céu e abarco tudo o que há, amor, ódio,
guerra e paz, tudo me pertence e eu sou
infinita, pertenço a tudo, tudo é meu
outras vezes, sou apenas um quarto
de paredes transparentes, toda eu sou
luz, toda eu sou sombra, contenho em
mim toda a energia do universo que
eu mesma faço pulsar, crescer, expandir
de todas as vezes sou eu e sou tudo,
sou inteira em cada ínfima partícula do
mundo, e ao mesmo tempo, sei que não
existo, não estou em parte alguma:
Aconteço na subtil respiração da flor.
céu e abarco tudo o que há, amor, ódio,
guerra e paz, tudo me pertence e eu sou
infinita, pertenço a tudo, tudo é meu
outras vezes, sou apenas um quarto
de paredes transparentes, toda eu sou
luz, toda eu sou sombra, contenho em
mim toda a energia do universo que
eu mesma faço pulsar, crescer, expandir
de todas as vezes sou eu e sou tudo,
sou inteira em cada ínfima partícula do
mundo, e ao mesmo tempo, sei que não
existo, não estou em parte alguma:
Aconteço na subtil respiração da flor.
quarta-feira, 28 de junho de 2017
Escrevi-te mais de mil poemas neste céu
Escrevi-te mais de mil poemas neste céu
de silêncio
nunca o mundo foi tão pequeno como
esta noite
nunca eu fui tanto querer e tanto sonho
o amor tão perfeitamente lúcido
uma janela aberta para as estrelas e o
teu nome
mais de mil vezes repetido ao infinito
de silêncio
nunca o mundo foi tão pequeno como
esta noite
nunca eu fui tanto querer e tanto sonho
o amor tão perfeitamente lúcido
uma janela aberta para as estrelas e o
teu nome
mais de mil vezes repetido ao infinito
terça-feira, 25 de abril de 2017
Liberdade
Como um pássaro de asas abertas
que abrisse caminho até ao fundo do mar.
Ou um poema feito de vento
que arrancasse os silêncios do chão ao passar.
Como uma multidão de estrelas
que se acendesse até ao fundo das palavras,
até ao fundo da verdade.
Como um jardim de vermelhos cravos
que florisse sem medo no peito,
até à liberdade.
Abril, 2012
que abrisse caminho até ao fundo do mar.
Ou um poema feito de vento
que arrancasse os silêncios do chão ao passar.
Como uma multidão de estrelas
que se acendesse até ao fundo das palavras,
até ao fundo da verdade.
Como um jardim de vermelhos cravos
que florisse sem medo no peito,
até à liberdade.
Abril, 2012
segunda-feira, 3 de abril de 2017
A dois
Viver contigo é saber que as meias
ficam pousadas aos pés da cama
e que a cama é sempre mais quente
do teu lado, mesmo se ainda não
estás, é saber que só durmo quando
te deitas e os teus braços me guardam,
mesmo que seja tarde e a sombra da
noite me pese nos olhos, é saber que de
manhã partilharemos sonhos e torradas
enquanto bebemos café, mesmo que
o mundo não pare de doer, é saber
que o poema somos nós que o
fazemos, com as mãos mergulhadas
em detergente, enquanto lavamos
a loiça e falamos de amor.
ficam pousadas aos pés da cama
e que a cama é sempre mais quente
do teu lado, mesmo se ainda não
estás, é saber que só durmo quando
te deitas e os teus braços me guardam,
mesmo que seja tarde e a sombra da
noite me pese nos olhos, é saber que de
manhã partilharemos sonhos e torradas
enquanto bebemos café, mesmo que
o mundo não pare de doer, é saber
que o poema somos nós que o
fazemos, com as mãos mergulhadas
em detergente, enquanto lavamos
a loiça e falamos de amor.